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Suíça admite que bancos foram usados para lavar dinheiro do Brasil  

País europeu bloqueou mais de mil contas envolvendo ex-diretores da Petrobras, políticos e Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato



Com mais de mil contas bloqueadas envolvendo a Operação Lava Jato, a Suíça admite que os bancos do país foram usados para “lavar” dinheiro da propina nos casos de ex-diretores da Petrobras, políticos e na Odebrecht. Em um informe publicado nesta quarta-feira (31/5) sobre suas atividades, o Departamento de Justiça Federal destaca o caso brasileiro como um exemplo da cooperação internacional e admite que o número de contas encontradas é “atípico”.

Mas também faz um alerta geral a todos os governos: um processo de investigação por corrupção pode ser barrado se um dos estados envolvidos se recusar a cooperar, principalmente quando a elite política do país estiver envolvida.

Com um terço da fortuna global depositados em seus bancos, as autoridades suíças adotam tradicionalmente uma cautela para falar sobre suas instituições financeiras. Mas com 42 bancos suíços envolvidos na Lava Jato e mais de US$ 1 bilhão (R$ 3,2 bilhões) congelados, o órgão que é o equivalente ao Ministério da Justiça reconhece a dimensão do caso.

De acordo com o Departamento de Justiça suíço, o “escândalo massivo de corrupção que chacoalhou o mundo dos negócios e político no Brasil ao seu coração” começou com prisões sem qualquer significado.

Mas, de acordo com o informe, procuradores brasileiros revelaram um sistema de corrupção centrado na Petrobras e Odebrecht. “Empresas brasileiras e estrangeiras subornaram diretores da Petrobras em troca de contratos. Em muitos casos, o volume extremamente elevado de dinheiro encontrou seu caminho até os políticos brasileiros”, disse.

No caso da Odebrecht, os suíços indicam que a empresa se beneficiou de contratos do governo. “Parte do dinheiro obtido nessas transações foi lavado por meio de contas em bancos suíços, onde parte ainda continua depositado”, disse o informe. De acordo com as autoridades, o Ministério Público suíço está conduzindo processos criminais em diversas frentes sob a base de lavagem de dinheiro.

Mas as autoridades admitem que diversos casos foram delegados ao Brasil. Um deles foi o de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados.

Para os suíços, a cooperação internacional foi “crucial” para atingir progresso nos processos em ambos os países. Um “elevado número” de pedidos de cooperação por parte do Brasil foi realizado. Mas Berna também solicitou ajuda, principalmente para ouvir suspeitos e testemunhas, além de extratos bancários.

O governo suíço, apesar de estar acostumado com dezenas de escândalos de corrupção, reconhece que a dimensão da corrupção no Brasil sai dos padrões. “É atípico, porém, o grande número de contas bancárias envolvidas e a escala das evidências que tem sido coletada”, apontou.

“Apesar da resistência de vários dos implicados, vários pedidos brasileiros por ajuda foram executados e as evidências foram entregues às autoridades brasileiras”, explicou. “O apoio suíço tem sido um dos fatores em diversas condenações no Brasil”, destaca o informe oficial.

Região
De acordo com os suíços, as investigações ainda revelaram que o escândalo ia bem além das fronteiras brasileiras. “Novos pedidos de assistência legal foram recebidos uma vez que as investigações sobre a Petrobras, e em especial a Odebrecht, revelaram que o escândalo de corrupção se estendeu para outros estados sul-americanos”, disse, numa referência a casos no Peru, Panamá, República Dominicana, Equador e outros.

Para o Departamento de Justiça, a cooperação internacional é um “desafio” nesse caso, não apenas para o Brasil, mas também para os suíços.

“Provamos estar à altura do desafio”, disse, lembrando que a “sinergia e confiança” entre as autoridades brasileiras e suíças permitiu que um caso complexo fosse lidado de forma “eficiente”.

Mas os suíços deixam claro que não há como dar por garantido que haverá uma vontade política sempre de cooperar. “Se o caso da Petrobras oferece um exemplo positivo de um esforço internacional unido, o 1MDB (fundo da Malásia) ilustra a dificuldade em combater a corrupção”, alertou. A referência era ao governo malaio que, por diversas vezes, impediu qualquer troca de informação. Mas a advertência valeu para todos.

“O interesse numa investigação não pode ser dado como uma garantia, especialmente quando a corrupção se estende aos níveis políticos mais altos de um estado estrangeiro”, alertou. “Um processo com sucesso pode ser obstruído ou até mesmo inteiramente barrado se um ator principal se recusa a conduzir seu próprio processo criminal e trabalhar com outros estados”, completou.